Uma vez eu passei uma tarde no São Paulo Fashion Week. Nunca vi
tamanha concentração de mulher horrorosa e brega. As feias na passarela.
As bregas, "desfilando" pelos corredores, emperiquitadas, maquiadas
demais, perfumadas demais. É um desfile de horrores, indescritível. Só
indo pra ver, o que recomendo, como experiência antropológica. Mas não
me convide para voltar.
Imagino que especialistas em design, tecidos e tal encontrem muitos
prazeres de ir a eventos como este. Ou experts na história da moda. E,
claro, há o lado circo da moda, como há o circo da Fórmula 1, do rock'n'roll, ou de Brasília. Quem não gosta de rock acha tudo igual, quem não curte Fórmula 1 não entende como alguém pode ficar assistindo os caras dando aquelas voltas infinitas.
Não tenho o menor interesse por moda nem roupa. Me visto como aos 15
anos, fora "farda", roupa de trabalho, jeans-camisa de manga
comprida-sapato-cinto. Compro aos pares ou trios, sempre nas mesmas
lojas, a camisa entrou? Vê uma preta, uma azul e uma bege. Não tenho
gravata, não aprendi a dar nó e nunca aprenderei. Se dependesse de mim,
passava o resto da vida de bermuda, camiseta e descalço.
Sou, portanto, o cara menos indicado do mundo para dar palpite sobre o
São Paulo Fashion Week: não entendo nada de moda. Mas entendo um bocado
de mulher. Nasci em 1965. Estou de olho nas moças desde a Giovanna, do
Carrossel, e a Rose di Primo, na capa da Manchete. Sei o que é uma
mulher bonita. Entendo que não se resume a medidas, proporções, alturas e
larguras. Nem a cor, cultura ou idade. Já viajei aos cinco continentes,
e compreendi que beleza é contexto. Já aprendi que uma mulher pode não
ser bonita e pode ser bela, e uma mulher pode ser feia e ser muito
sensual.
Portanto uma mulher pode ser esquálida, pálida e desconjuntada e pode
ainda assim ser bonita, e pode ainda assim ser atraente para um homem.
Mas quando você vê um monte de mulheres assim, todas iguais, e mocinhas
além do mais, é chocante. Certo que elas não estão na passarela para
serem vistas; as estrelas de um desfile são as roupas. Mas acabam
estabelecendo um padrão mórbido, que influi na vida de muitas meninas e
mulheres. Porque mexe com a percepção que cada mulher tem de si mesma.
Há uma piada velha de que as modelos mulheres são sempre feinhas, e
os modelos homens são sempre bonitos, porque os estilistas são todos
gays. É duro não matutar sobre o assunto quando você vai a um evento de
moda. Os homens são bonitos, fortes e másculos, sejam homo ou hetero.
São o ideal de homem. As mulheres não são o ideal de mulher, de jeito
nenhum.
O educativo de ir ao São Paulo Fashion Week é perceber como a imagem
que temos das famosas não têm nada a ver com seu aspecto no mundo real.
Imaginamos que as poucas mulheres que estão na passarela para serem
vistas fugirão do padrão campo-de-concentração do resto. É impressão
falsa. De perto, essas superstars são também magricelas, ainda que se
permitam uma corzinha de saúde e peitos (normalmente de silicone). É o
caso de Gisele Bündchen.
Gisele é feia? Não. Ficaria mais atraente com mais uns quilinhos nos
lugares certos? Na opinião de 99,99% dos machos do planeta Terra, sem
dúvida nenhuma. Mas a cobertura deste São Paulo Fashion Week é todo
sobre a volta de Gisele, e como ela está maravilhosa, divina etc. Esses
dias outras modelos famosas voltaram ao tema. Isabela Fiorentino disse
que modelo tem que ser magra mesmo, e é isso aí. E é isso aí mesmo:
garota que quer ser modelo tem que passar fome. É o que o mercado exige.
Mas por que o mercado exige isso?
Em entrevista ao R7,
Izabel Goulart nem percebe como se contradiz. Ela fala que é magrinha
porque toda sua família é assim. "Tenho que ser feliz com minha própria
pele. Esse é o corpo que Deus me deu e sou feliz assim." E depois desfia
todas as atividades que faz pra se manter: malhação, pilates,
kickboxing. E não comenta o óbvio: dieta radical.
Essas modelos brasileiras são famosas por serem carnudas, pelos
padrões do mundo da moda. Tanto que várias são parte do time de Angels,
modelos de lingerie, da grife Victoria's Secret. A mais conhecida é
Alessandra Ambrosio.
Não são só as modelos. Quando fui ao São Paulo Fashion Week, vi
muitas atrizes famosas. Dizem que televisão engorda, e é verdade. De
perto, elas são todas muito mais secas, e muito menos atraentes. Esses
dias estava traçando uma picanha perto de casa, restaurante desencanado
na Vila Madalena. Entrou uma atriz brasileira bem famosa, com uma amiga.
Vestia roupa bem normalzinha, era um sábado à tarde. Cadê o bocão, as
curvas, o sex-appeal? Era só mais uma moça mirrada. Almoçou - pouco - e
foi embora. Ninguém reconheceu. Mas toda brasileira quer ser como as
estrelas da TV...
Não sou bobo de defender um padrão único de beleza para mulher. Seria
muita pobreza de espírito, e pelo contrário, quanto mais diversidade,
melhor para os olhos e para nosso caldo genético. Uma razão porque o
Brasil tem tanta mulher bonita é justamente a variedade e a
miscigenação. É possível uma mulher ser magérrima, ou fortona, e linda.
Mas esses padrões que vêm se afirmando no país são bizarros - tanto essa
magreza esquizofrênica, quanto seu oposto, as musculosas paquidérmicas
de reality show.
E é impossível, porque a mulher normal é normal, estuda, trabalha,
tem filho, não vive de ser um esqueleto ambulante. Aí é essa neura
miserável, que massacra quase toda mulher que eu conheço. Estão todas
sempre de regime, e sempre descontentes com seus corpos. Todas as capas
de revista são sobre como emagrecer, e trazem famosas da TV de biquíni,
magérrimas e melhoradíssimas pelo Photoshop. E toca vender livro da dieta,
remédio pra dieta, suplemento de não sei o quê. E agora é o sopão, e
depois o Dukan, e o novo milagre ortomolecular pra enganar as trouxas.
Ou, alternativamente, suplemento, bomba e academia.
Se eu pudesse dizer uma coisa no ouvido de cada brasileira é:
relaxe. A mulher fica mais bonita quando à vontade no seu corpo, e
caprichando um pouco para nos agradar, seduzir, encantar. Ah, e a missão
da mulher por acaso é ficar bonita para o homem? Claro que não. Mas
agradecemos de coração.
http://ow.ly/qqNPX
http://ow.ly/qqNPX
Nenhum comentário:
Postar um comentário