terça-feira, 17 de junho de 2008

Pensando gordo nas relações





Comecei a refletir em como funciona o indivíduo com sobrepeso/obesidade pensando gordo. Se puder escolher entre um pequeno sonho e um ao lado, grande é este mesmo que irá optar em comer. Não precisamos ir muito longe para observarmos em como esses comportamentos se dão quando algumas pessoas ao entrarem a uma loja para comprar um sapato, experimentam um preto, básico, é este que está precisando no momento, mas, ao lado tem um verde lindo, e outro marrom, e quando sai da loja se dá conta da loucura que fez. Não comprou só o par de sapatos que precisava, e sim três pares de sapatos.
A compulsão pode se dar em vários aspectos de nossas vidas, e cada um experimenta de forma diferente essa manifestação, um comportamento a qual chamamos de perda de controle.
Nas relações interpessoais, a situação se repete de uma forma disfarçada. A compulsão vem transvertida através da necessidade do outro nos completar. Observamos na clínica como também em nossa vivência pessoal, várias relações aonde podem detectar um adoecimento do afeto. Uma necessidade de que o outro nos complete, possa preencher nossos anseios, vazios, solidão e angústias. A partir deste ponto averiguamos que grande parte das pessoas pensam gordo, e acreditam realmente que o outro deva encarnar a sua idealização, e se decepcionam quando se deparam com as diferenças, com a não completude de seus pensamentos, seu corpo (simbiose), e na seqüência, cortam as suas relações, destrói o outro. O outro o decepcionou, não deliberadamente, mas por ser justamente - O OUTRO, com anseios, desejos, crenças, referências diferenciadas, e que realmente não vai e não pode, se colar ao desejo e no anseio do amigo. Penso na relação do pensar gordo nesse aspecto, do desejar mais, querer que o outro seja o maior dos amigos, o melhor, o mais compreensivo, o mais presente, para justamente compartilhar a forma de ver e vivenciar as situações do dia a dia, o pensamento mágico de que tudo vai melhorar, se o outro os preencher. E a comida, não é essa a função que ela exerce no obeso?




Sílvia Luciana Kotaka
Psicóloga Clínica

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