quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Traumas na gestação

Mulheres que passam por período de estresse intenso podem ter curso da gravidez alterado
Por Ariane Donegati, filha de Jane e Julio
Durante a gravidez, mãe e filho estão interligados física e psiquicamente. O que a  mãe sente é percebido pelo bebê, mesmo porque o estresse provoca alterações físicas. Segundo a ginecologista e obstetra da Clínica Plena, Denise Wiggers, mãe de Vicente, o trauma em si não costuma afetar o curso da gestação, mas algum estresse poderia, sim, desencadear sintomas físicos.

Os ritmos corporais mudam, provocando, por exemplo, aumento da frequência cardíaca. Dentro da barriga, seu filho ouve as batidas do seu coração, o bombeamento do sangue, os barulhos do sistema digestivo.
Dentro do possível, o melhor é evitar situações estressantes, mas a gente sabe que nem sempre é. Pode acontecer de a futura mãe sofrer um trauma, como a perda de alguém muito querido. Qual o impacto de uma situação traumática sobre o bebê?

Nesta semana, o músico Champignon cometeu suicídio e sua esposa, Claudia Campos, grávida de cinco meses, ficou em estado de choque. Num caso como este, em que a pessoa passa por um trauma, o bebê, que ainda não consegue codificar essa sensação, recebe as emoções através das sensações da mãe.

Para a psicoterapeuta Alina Purvinis, mãe de Larissa, Liana e Letícia, cita um estudo do psiquiatra norte-americano David Viscott , que enfatiza o vínculo criado entre mãe e bebê ainda na barriga. O autor simulou o barulho do sangue da mãe passando rapidamente pelos vasos sanguíneos, representando uma situação de estresse da grávida. O paciente submetido à experiência sofreu uma crise de pânico apenas ouvindo o som.  O experimento mostra que fatores emocionais da grávida podem afetar a criança emocionalmente.

Se a mulher sofreu um trauma ou estresse intenso durante a gestação, um dos caminhos é procurar terapia de apoio ainda na gravidez para tentar minimizar os efeitos do trauma para ela e para o bebê.

A professora da Escola de Medicina de Monte Sinai e o psiquiatra Rachel Yehuda, junto com o professor de medicina molecular Jonathan Seckl, estudaram as grávidas que presenciaram o atentado às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, que aconteceu há 12 anos. As crianças nascidas pouco após o atentado apresentaram um nível de cortisona (hormônio ligado ao estresse) no sangue mais alto do que a média da população.


Para a psicóloga e psicanalista Cynthia Boscovich não é possível  generalizar sobre como cada um irá responder a algum trauma ou estresse profundo, depende de algumas variáveis como condição física, emocional e história de vida da pessoa.  “O que sabemos é que a glândula suprarrenal pode secretar algumas substâncias no sangue, como cortisol ou adrenalina, que são capazes de fazer com que o organismo se altere, o que causaria algum tipo de sintoma,como aumento da pressão arterial ou dos batimentos cardíacos, sudorese, alterações do sono, entre outros”, diz.

Mas, como lembra a psicóloga, isso não deve ser encarado como regra. Muitas mulheres podem passar por um estresse intensomas, com equilíbrio, mantendo certos cuidados e com ajuda, podem seguir a gestação normalmente. Mas também pode acontecer de a mulher sofrer com este trauma e, consequentemente, o bebê. Neste caso, o indicado é procurar por um especialista que a ajude a superar ou lidar da melhor forma possível com isso. Pode não ser fácil, mas buscar apoio ajuda bastante.

Consultoria: Alina Purvinis, mãe de Larissa, Letícia e Liana, gestal-terapeuta (www.nucleogestalt.com.br); Denise Wiggers, mãe de Vicente, ginecologista o obstetra da Clínica Plena; Cynthia Boscovich, mãe de Bruno e Giovanna, psicóloga clínica, psicanalista,membro regular da sociedade brasileira de psicanálise Winnicottiana, (www.cuidadomaterno.com.br).

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