Na luta contra o efeito sanfona e o sobrepeso desde os 18 anos, a analista de comunicação e blogueira Giselli Souza, do Divas que Correm, descobriu na corrida uma forma de ter uma vida mais saudável.
Para conseguir melhorar seu desempenho no esporte pelo qual ela se apaixonou, encarou a reeducação alimentar com uma nutricionista e conseguiu dar uma virada em sua luta contra a balança em 2013.
Já correu duas maratonas (mais de 42km!) e exibe agora de top um corpo enxuto de 61,5kg nas corridas que faz pelo Brasil e pelo mundo. Para quem já chegou a pesar 76kg, é uma respeitável redução de quase 15kg.
Giselli, que está com 33 anos, considera que a atividade física lhe devolveu a vontade de viver e de se cuidar.
“Para mim, não fazia muito sentido emagrecer, pois estava tão deprimida, que nada fazia sentido. Comia para aliviar a barra que eu estava passando, mas na verdade funcionava como um castigo e eu só ficava pior”, explica a moça. “O emagrecimento foi um presente que eu dei a mim mesma, depois de ter recuperado a minha autoestima. Foi aquele acerto final com o espelho e hoje posso dizer: nunca me senti tão bonita!”.
O segredo do sucesso ela conta aqui no Emagrece Bolotinha, em entrevista que me deu nesta semana.
Você escolheu emagrecer e usou a corrida para te ajudar no processo de perda de peso ou adotou a corrida como estilo de vida e acabou por emagrecer?
Giselli Souza - Eu adotei a corrida como estilo de vida e o emagrecimento ocorreu de forma lenta e natural. Comecei a correr em 2008 com 76kg e fumando ainda meio maço. Em dois meses correndo, larguei de vez o cigarro, em 2009 comecei a fazer as minhas primeiras provas de 5km e em 2010 comecei a emagrecer por conta própria. Fiz aquele tradicional “fechar a boca”. Diminuí o consumo de doces e, por conta da morte da minha mãe, nem sentia muito apetite. Emagreci nesta época 7kg, mas engordei parte desse peso depois, quando fiquei parada por conta de uma lesão na perna. Voltei aos 72kg e em 2012, quando realmente decidi que queria fazer uma maratona, encarei a reeducação alimentar. Em um ano, emagreci 12 kg, uma media de 1 kg por mês, e finalmente aprendi a comer.
Como foi essa sua reeducação alimentar?
Giselli Souza - Eu realmente decidi encarar a reeducação alimentar com uma nutricionista. Esse processo durou um ano e foi bem devagar, com uma perda de peso de 1 kg por mês. E foi um ano intenso do ponto de vista esportivo, pois treinei para duas maratonas (provas de 42km), o que me obrigou a redobrar o cuidado com a alimentação.
Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou?
Giselli Souza - Até a reeducação alimentar eu acreditava que se eu corresse 10km teria “passe livre” para abrir uma lata de leite condensado na panela e comer ela inteira (quente!). Na reeducação e nos treinos, a gente descobre que não é bem assim. A má escolha dos alimentos compromete não só na balança, mas na saúde, pois faltam os nutrientes necessários e a probabilidade de ficar doente aumenta. Posto isso, comecei a incluir mais carboidratos nas refeições, o que para mim foi uma dificuldade, pois não gosto do tradicional “arroz e feijão”. Erroneamente ficava só na salada e grelhado e na parte da tarde, quando a fome “ataca”, me entupia de doce. Comecei a comer mesmo sem gostar (ao menos duas vezes na semana) e precisei comprar uma lancheira pra sempre andar com os lanchinhos pra não “esquecer” de comer – pois era acostumada a ficar horas e horas sem nada no estômago.
Quais foram os seus segredos para superar essas dificuldades?
Giselli Souza - Substituí todo o carboidrato branco por integral, sempre ando com a lancheira e passei a pesquisar receitas e lanchinhos diferentes para fugir da tradicional “maçã e gelatina”. Hoje em dia existe uma infinidade de produtos saborosos e receitas saudáveis onde é possível manter a dieta de uma forma natural, sem aquela ditadura do “estou de regime”, “não posso engordar”. Mesmo em uma praça de alimentação de um shopping, é possível encontrar opções saborosas e saudáveis. Uma vez por semana, geralmente no sábado ou domingo, me dou de presente algum doce, geralmente chocolate. A porção obviamente é pequena (até porque não aguento mais comer na mesma quantidade), mas faço isso porque acredito que a reeducação alimentar me abriu uma oportunidade de ser magra para o resto da vida. Basta saber equilibrar.
Você conseguiu identificar o que te fazia engordar?
Giselli Souza - Sim. Minha ansiedade com a comida, mais especialmente os doces, eram um mecanismo que eu tinha de lidar com os problemas pessoais e a minha falta de autoestima. Não sou uma pessoa 100% resolvida (e acho que nunca serei), mas descobri em mim uma força racional que hoje me faz acreditar que mesmo diante a qualquer problema, não vale a pena me destruir na comida nem em nada que me coloque para baixo. Pelo contrário, quanto mais forte e mais bonita estiver, terei mais força pra sair de qualquer dificuldade que a vida me colocar.
O que você fez para combater esse problema?
Giselli Souza - Não fico mais horas sem comer. Uma pessoa com fome faz qualquer coisa, rs. Procuro sempre estar alimentada e com a minha lancheira porque se preciso ficar até mais tarde no trabalho, por exemplo, não vou descarregar o estresse de um dia ruim em uma pizza. Mas sim, vou me alimentar corretamente para no dia seguinte acordar ainda mais cedo e treinar um pouco mais para deixar ali (na academia, no parque ou na piscina) a minha irritação ou tristeza. É colocar para fora o que me faz mal e não para dentro com a comida, entende?
Quais foram as maiores conquistas que você teve desde que adotou um estilo de vida mais saudável?
Giselli Souza - Raramente eu fico doente, fiquei mais criativa e disposta no trabalho. Adquiri novamente confiança em mim mesma e voltei a ter prazer de me arrumar, de comprar roupas e correr de top.
Que hábitos você adquiriu que pretende levar para toda a vida?
Giselli Souza - Andar sempre de lancheira, comer mais em casa do que na rua e praticar esportes diariamente.
Que hábitos que você tinha que abandonou para sempre?
Giselli Souza - Ir em botecos durante a semana, beber e fumar até as 5 da manhã com amigos e ficar no sofá o final de semana inteiro comendo uma lata de brigadeiro e tomando vinho sozinha. Só de lembrar disso me dá calafrios.
O que você já tinha feito, ao longo dos anos, na luta contra a balança e que não deu certo?
Giselli Souza - Frequento consultórios de endocrinologistas desde os meus 18 anos, pois mesmo praticando esportes desde criança, sempre tive compulsão por doces e quase sempre descontava a minha ansiedade e frustrações na comida. Tentei shakes para emagrecer, dietas muito restritivas e SPAs. Nunca fui obesa, mas sempre vivi no efeito sanfona e no sobrepeso, pois mesmo praticando esportes, não corrigia a alimentação. Quando meu pai faleceu e eu entrei na faculdade, comecei a fumar e parei de frequentar a academia. Mudei de cidade (eu cresci em Santos, litoral paulista), passei a fazer estágios e sair bastante, o que contribuiu ainda mais para o meu ganho de peso.
Quando e por que você decidiu que estava na hora de mudar?
Giselli Souza - Minha mãe teve câncer por 12 anos e nesse período descontei muito dos problemas na comida e adquiri hábitos os quais, depois de um tempo, não faziam mais sentido para mim. Aos 28 anos me vi gorda, sem roupas para vestir, com uma mãe doente e um ex-namorado ciumento que me colocava para baixo e dizia que eu não seria capaz de emagrecer, muito menos parar de fumar. Gorda e sem autoestima, comecei a correr e, aos poucos, passei a ter vontade de mudar a minha alimentação para me sentir melhor na corrida.
Qual é a importância que a atividade física teve no seu emagrecimento?
Giselli Souza - A atividade física me devolveu a vontade de viver e de me cuidar. Para mim, não fazia muito sentido emagrecer, pois estava tão deprimida, que nada fazia sentido. Comia para “aliviar” a barra que eu estava passando, mas na verdade funcionava como um “castigo” e eu só ficava pior. A corrida me devolveu a vontade de viver, de curtir a vida intensamente, onde mesmo os momentos e situações ruins que acontecem com a gente, se tornam um aprendizado. O emagrecimento foi um “presente” que eu dei a mim mesma, depois de ter recuperado a minha autoestima. Foi aquele “acerto final” com o espelho e hoje posso dizer: nunca me senti tão bonita!
Quais outros esportes você pratica além da corrida?
Giselli Souza - Acordo todos os dias às 5h30, tomo café e vou treinar. Faço natação duas vezes por semana, musculação quatro vezes e pilates uma vez por semana. Meu ritmo de treinos é intenso, pois como sempre estou atrás de desafios novos, preciso estar bem condicionada e preparada para eles. Quando tenho tempo, gosto de pedalar também.
Qual é a importância de ter o seu marido por perto durante seus treinos, corridas e competições?
Giselli Souza - Conheci meu marido graças ao meu envolvimento com a corrida e tê-lo por perto me motiva bastante (e a ele também). Dividimos nossas vitórias, frustrações no esporte e dificuldades, pois tanto para mim, que tive um passado “baladeiro” de muito álcool e cigarro, como para ele – que já foi obeso mórbido – estar hoje em uma prova ao lado de atletas é por si só uma grande vitória.
O que você diria para os maridos, esposas, namorados, namoradas dos internautas que estão querendo usar a corrida como estímulo para emagrecer?
Giselli Souza - Que não depositem toda a responsabilidade do emagrecimento na corrida. O esporte ajuda, mas a solução está na cabeça e, é claro, na boca. Não adianta comer o dobro porque correu e está com fome, pois o efeito será nulo. Aproveite a motivação da corrida para buscar corrigir a sua alimentação e faça isso sem cobranças, pois a perda de peso vai ocorrer de forma natural.
O que você sugere para quem quer começar a correr?
Giselli Souza - Comece caminhando duas vezes por semana e aos poucos intercale com trotes. Por exemplo: se você já caminha, caminhe três minutos e corra outros dois. Faça isso por 45 minutos, duas vezes por semana, se possível, em um parque. Depois de um mês, acrescente mais um dia na semana e comece a caminhar dois minutos e correr outros três. Gradativamente vá diminuindo o espaço entre a caminhada e a corrida e no terceiro mês provavelmente você já estará correndo o tempo todo – e certamente não vai parar por aí.
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